E diante de si ela o viu, nada havia mudado, ele era o mesmo
que recordará, seus olhos negros como a noite mais escura ainda penetrantes,
sua pele branca se contrastando com o vermelho de seus lábios, seu cabelo, tão
negro quanto os olhos, bagunçado caindo-lhe sobre os olhos. Ele ainda era o mesmo.
E era o que ela queria, que ele fosse o mesmo, o mesmo homem que amará em seus
sonhos, que existia em sua mente e que agora se fazia presente sem ter que
fechar os olhos.
Como ter reação em situação que acreditará tão fantasiosa. E
assim durante alguns minutos ela ficou diante dele apenas o contemplando,
acreditando estar louca e ao mesmo tempo com medo de que se fechasse os olhos,
ou se piscasse não voltaria a vê-lo, ao mesmos não tão nítido, não tão real. E
foi então que os lábios dele começaram a se mexer mudando seu semblante com um
sorriso, de alguma forma que ele sabia que a reconfortaria com esse gesto, e
novamente seus lábios se mexeram e dessa vez sussurrarão:
- Eu estou aqui, e se for do seu desejo, aqui permanecerei.
Diante dessas palavras ela sentiu que lagrimas corriam por
seu rosto, mas aquilo não impedia o seu reflexo de toca-lo para ter a certeza
de que tudo era real, de que ele era real. E nesse instante a realidade tomou
posse daquele momento perfeito, quando erguera o seu braço para toca-lo, uma
dor lancinante se espalhou por todo o seu corpo, era como se pegasse fogo. E pela
primeira vez desde que acordara ela notou onde estava, em quarto de paredes
brancas, com uma pequena janela a direita, ao lado de uma porta que parecia ser
de um banheiro, havia também três camas uma do lado da outra e entre elas uma espécie
de criado mudo, com uma jarra de agua com um copo, na parede à frente havia uma
pequena tv pendurada, quase tocando o teto, e ao lado da cama que estava
deitada havia uma porta que dava para um corredor.
Em algum momento o rosto dele começou a desaparecer conforme
suas lembranças voltavam. Mas foi quando ouviu uma voz familiar vinda daquele
corredor, que ele sumiu completamente. Era sua mãe, que logo apareceu na porta,
com uma mulher que parecia ser uma medica, as duas a viram, a mãe mal conseguia
falar direito, sua voz era tremula parecendo que havia chorado, e seus olhos
inchados e vermelhos só concretizavam esse parecer. A medica era uma senhora
que aparentava uns 50 anos, era branca, cabelos chanel e loira, seu ar inspirava
sobriedade e confiança, sua voz era um pouco grossa devido à idade, e suas
palavras eram um banho triste de realidade:
-Olá meu nome é Doutora Vera Fizer, sou sua medica. Você
teve muita sorte, podia ter pego até uma infecção na situação que se encontrava,
mas agora você vai ficar bem, suas queimaduras já foram limpas, seu curativo já
foi feito, e com os remédios que você está tomando sua dor vai amenizar muito.
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